Faz muito frio agora. Faz frio dentro de mim. O que antes era instinto de sobrevivência agora teima em não chegar aos meus pulmões. Em mente, dou um passeio pelos meus quintais e chego a sentir o cheiro do mato e da terra. Escorre-me às faces uma humilde lágrima. Dispo-me da esperânca da permanência e aceito que é chegada a hora.
Vêm-me a mente memórias lúcidas, como no dia em que, de fato, aconteceram. Estranho-me ao voltar desse devaneio e não lembrar o nome de minha filha. Paira sobre meu corpo cansado a paz que busquei a vida toda e somada a saudade, apego à minha terra e minha gente, acaba por restar só a tristeza.
A consciência esvaiu-se de mim, enfim. Com os pensamentos atordoados, abro a boca, mas sou traída pela ausência de som. Tudo o que viví até agora, não parece mais que páginas escritas pela metade. Sinto que meus ouvidos também cansaram, agora só sinto o vento frio e uma latência perturbar minhas carnes, enquanto vejo pela janela o sol dar-me adeus, o derradeiro,fecho os olhos.
Junto com a noite, veio uma sensação confortante, abro os olhos. Uma desfocada luz enche meu quarto. Veio junto com o cheiro da chuva que molhava meu telhado, embalada pelo vento Aracatí a castigar fortemente a terra seca do meu terreiro, uma mão que se estendeu diante de mim, e contra os meus instintos, também estendí a minha até tocar na outra. Não por tristeza, deixei cair uma última lágrima, saudosa dessa vida, como uma recompensa a tudo o que eu viví, e deixo-me guiar pela mão que me segura.
Sento-me a cama e meu corpo lá fica, fito pela última vez meus entes queridos, dispeço-me entre seus choros. Ao passo que me afasto, sinto novamente o coração pesar em meu peito, encho-me de alegria e, sem medo, vou em direção da continuidade da vida.
Romário Mattos, com amor,respeito e eterna admiração.
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