"Eu te amo - disse.
E o mundo despencou-lhe nas costas. Não havia de sofrer tanto.
O mundo pesa sobre o amor. Leveza dá pena no espaço.
E se teu amor por mais pedra não voar: liberta tuas costas do peso que não carregas.
E se teu amor por mais pena não mergulhar: vai te banhar e olha-te no olhar que não te cega.
Se teu amor te pesa mais que o mundo que carregas: degela-o e deixa-o beber os deltas."
Agora tenho a impressão de que os dias passam mais depressa. Não tenho mais preocupação, mas sinto falta de me preocupar. Na minha agenda agora tem outro nome. E o sentimento não é mais o mesmo. Eu sei. Eu sinto. Eu ainda sinto. Não sei o quê, mas persiste. Insiste em não me deixar.
A fumaça do meu cigarro que invade meu pulmão é a mesma que embaraça minha mente. Que deixa tudo turvo em mim. A cicatrização demora. Há sim, dentro em mim algo de nós dois. Que não passa só porque eu quero. Que não passa com o álcool. Não tem reação. A reação não acontece. A variação da entalpia é igual a zero.
O que fazer?? O que fazer quando a vontade ainda fala mais alto que eu mesmo? Não me conheço mais. Procuro em mim a estabilidade que já não existe. Qual a diferença entre amar e aprisonar?Dar a mão e receber algemas... sentir-se preso a algo que talvez você mesmo tenha criado?
Não sei pra onde vou agora, nem se isso tudo vai acabar quando me faltarem as palavras. Eu sinto. Apenas sinto muito. Por nós, por mim e por você. Por você amar a pessoa que eu não sou.
Carta a Vitorino Nemésio
Talvez que o anjo esquecido,
O anjo da poesia,
Se tenha de mim perdido
Sem reparar que o fazia...
Por isso me faltam asas
E me sobejam as penas
De um desejo inalcançado:
Que eu gostava de voar
Até ao anjo perdido
O anjo de mim esquecido,
Que por mim é tão lembrado.
Ai se eu tivesse voado
Aonde queria voar
Não estava agora a rimar
Versos de asas cortadas.
Voava junto de si
Assim fico aonde me vê
Mesmo pregadinha ao chão
Com asas de papelão
E sem entender porquê.
Pois a uns faltam-lhe asas
Mas por ter asas cortadas
Sofrem uns e outros não?
Eu tenho sofrido muito
Nos meus voos ensaiados
Que ao querer sair do chão
Ficam-me os pés agarrados,
...E por falar dos pés
Com versos de pés quebrados
Perdoe lá a quem os fez
Pelo mal dos meus pecados
Só os fiz por timidez
Que tenho em me dirigir
A quem tem por lucidez
Razão para distinguir
O bom e o mau Português.
Assim à minha maneira
Aqui venho responder
Desta forma tão ligeira
Que a sério não pode ser!
Amália Rodrigues
A pena que pesa em meu peito,
Parece poeira do tempo,
Costurando em meus pensamentos,
Passado, futuro e presente.
Quê peso?
Da pena passada?
Quem pensa na pena presente?
Só posso pesar minhas penas,
Com o peso da dor dos ausentes.
Pois somos pesos da mesma medida,
E o peso maior dessa vida,
É perder minhas penas sofridas.
Paula Matos 10/05/2010