Soneto do desapego

09:00 / Postado por Romário Matos / comentários (0)

Edward Hopper, Summer Interior



O que me consome agora é o que não ficou em mim
Tudo aquilo que outrora causei
Tudo o que jamais senti
É o que me integra e de mim não sai

No peito, um vazio
Um silêncio, um pesar, uma pedra
Que não para de pulsar, sangrar
Na iminência de, para sempre, me deixar

Cai dos meus olhos as lágrimas que nunca tive
Contra minha vontade elas teimam em cair
E se encontram quando tocam meu peito

Essa vida dando cabo da gente
E só se percebe quando sai de repente
Me deixando um enorme penar

" Não venhas, meu amor, eu já morri." - Antônio Botto

Tenho um coração! Bem melhor que não tivera.

08:52 / Postado por Romário Matos / comentários (0)


"Eu te amo - disse.
E o mundo despencou-lhe nas costas. Não havia de sofrer tanto.
O mundo pesa sobre o amor. Leveza dá pena no espaço.
E se teu amor por mais pedra não voar: liberta tuas costas do peso que não carregas.
E se teu amor por mais pena não mergulhar: vai te banhar e olha-te no olhar que não te cega.
Se teu amor te pesa mais que o mundo que carregas: degela-o e deixa-o beber os deltas."


Tata Fernandes / Kléber Albuquerque

(De)vagando...naquela estação

17:31 / Postado por Romário Matos / comentários (2)


Na mesma estação de outrora. Agora, a chuva passada deixou subir do chão de terra batida, o cheiro de esperança molhada trazendo junto de si a saudade de quem ali não mais estava.Na
calçada, junto às malas, as pessoas passavam apressadas, buscando em cada um de nós um rosto conhecido.
Era lindo e eu morria de medo. Nada entre tudo aquilo me chamava a atenção a não ser o livro que eu tinha em mãos, e a pessoa ao meu lado. Uma jovem senhora que parecia saber mais sobre mim do que eu mesmo. Ela sim, em meio a tudo aquilo, me prendia.
Lembro-me vagamente das coisas que ela falava, o que mais me marcou foi seu cheiro. Um aroma maravilhoso de vidas passadas, de pingos de chuva a molhar as telhas, do café matinal, cheiro de abraço de mãe.
Quando a calçada da estação não nos dava mais espaço para andar, olhando para os trilhos cheios de grama por sobre eles, a jovem senhora me encarou, do fundo dos seus olhos castanhos cobertos por uma fina camada de amor, e disse-me:
-Tu já andaste por esse mundo todo, já amaste muitas vezes, já sofreste por demais. Agora vá! termines de escrever o último capítulo da sua vida que começaste a escrever quando, dessa vez, nasceu.
E quando isso já não me fazia sentido algum, acordei.

Missing.

16:43 / Postado por Romário Matos / comentários (2)


Agora tenho a impressão de que os dias passam mais depressa. Não tenho mais preocupação, mas sinto falta de me preocupar. Na minha agenda agora tem outro nome. E o sentimento não é mais o mesmo. Eu sei. Eu sinto. Eu ainda sinto. Não sei o quê, mas persiste. Insiste em não me deixar.
A fumaça do meu cigarro que invade meu pulmão é a mesma que embaraça minha mente. Que deixa tudo turvo em mim. A cicatrização demora. Há sim, dentro em mim algo de nós dois. Que não passa só porque eu quero. Que não passa com o álcool. Não tem reação. A reação não acontece. A variação da entalpia é igual a zero.
O que fazer?? O que fazer quando a vontade ainda fala mais alto que eu mesmo? Não me conheço mais. Procuro em mim a estabilidade que já não existe. Qual a diferença entre amar e aprisonar?Dar a mão e receber algemas... sentir-se preso a algo que talvez você mesmo tenha criado?
Não sei pra onde vou agora, nem se isso tudo vai acabar quando me faltarem as palavras. Eu sinto. Apenas sinto muito. Por nós, por mim e por você. Por você amar a pessoa que eu não sou.

Carta a Vitorino Nemésio

21:46 / Postado por Romário Matos / comentários (0)


Carta a Vitorino Nemésio

Talvez que o anjo esquecido,
O anjo da poesia,
Se tenha de mim perdido
Sem reparar que o fazia...
Por isso me faltam asas
E me sobejam as penas
De um desejo inalcançado:
Que eu gostava de voar
Até ao anjo perdido
O anjo de mim esquecido,
Que por mim é tão lembrado.
Ai se eu tivesse voado
Aonde queria voar
Não estava agora a rimar
Versos de asas cortadas.
Voava junto de si
Assim fico aonde me vê
Mesmo pregadinha ao chão
Com asas de papelão
E sem entender porquê.
Pois a uns faltam-lhe asas
Mas por ter asas cortadas
Sofrem uns e outros não?
Eu tenho sofrido muito
Nos meus voos ensaiados
Que ao querer sair do chão
Ficam-me os pés agarrados,
...E por falar dos pés
Com versos de pés quebrados
Perdoe lá a quem os fez
Pelo mal dos meus pecados
Só os fiz por timidez
Que tenho em me dirigir
A quem tem por lucidez
Razão para distinguir
O bom e o mau Português.
Assim à minha maneira
Aqui venho responder
Desta forma tão ligeira
Que a sério não pode ser!

Amália Rodrigues

Beaux yeux

17:53 / Postado por Romário Matos / comentários (0)





Lindo mesmo é tua alma,
adornada de todas as cores.
Lindo também são teus olhos,
fitando na direção dos amores.



Paula Matos.

PENA

17:47 / Postado por Romário Matos / comentários (0)




A pena que pesa em meu peito,
Parece poeira do tempo,
Costurando em meus pensamentos,
Passado, futuro e presente.
Quê peso?
Da pena passada?
Quem pensa na pena presente?
Só posso pesar minhas penas,
Com o peso da dor dos ausentes.
Pois somos pesos da mesma medida,
E o peso maior dessa vida,
É perder minhas penas sofridas.

Paula Matos 10/05/2010